domingo, 6 de setembro de 2009

Cores da Imortalidade


Por Silmara Fradico

foto original: Geraldo Magela/Agência Senado - (modificada para o blog)



Caso você tenha chegado aqui procurando artigos espíritas ou esotéricos, sinto, não se trata disso. Escrevo sobre imortais. Aqueles que são eleitos para compor as tais Academias de Letras. A grande maioria de nós apenas ouve falar da ABL, aquela mais famosa, fundada e presidida por Machado de Assis. Anteriormente presidida claro. Machado já se foi, mas seus livros continuam conosco e sua memória também, por isso ele é imortal. A idéia inicial é essa: ser imortalizado por suas obras literárias. A imortalidade pode vir por outros meios também, mas está sempre relacionada à memória. Realize algo que fique para a posteridade e isso o tornará imortal. Temos inventores, professores, líderes sociais, bandidos, etc. De bom e de mau, muito passa a ser imortal. Não intencionava essa rima. Minha intenção era ser clara quanto ao tipo de imortalidade de que estou falando.
Por conta dessa necessidade de me fazer entender, vamos nos ater ao seguinte fato atual: Fernando Collor de Melo é o mais novo imortal da Academia Alagoana de Letras. O primeiro pensamento que me ocorreu foi: para quê?! É possível e muito provável que você não tenha lembranças tão nítidas de fatos passados a cerca de dezesseis anos atrás, mas eu até tenho. Na verdade, lembro-me de fatos de anos antes também, quando acompanhei meu pai até sua seção eleitoral e pedi a um dos panfleteiros que colasse um daqueles adesivos coloridos na minha roupa. Anos depois, minha vontade era ser mais velha, para poder ficar com o rosto colorido e ir aos protestos. Não que eu entendesse totalmente o que representava tudo aquilo que tomou a mídia e ocupava até mesmo os temas de campanhas publicitárias (lembro particularmente de um comercial da Fotótica), mas sabia sim que o comportamento do nosso então presidente estava sendo reprovado pela população. Impeachment. Quase nenhum brasileiro tinha lido, escrito, falado, ou usado em qualquer situação essa palavra estrangeira. Uma expressão nova, para uma situação nova. Uma palavra muito usada em um famoso reality show cabe e traduz de forma mais simples o que ela representa: demitido. E a partir daí, sua trajetória política foi imortalizada.

Tanto na votação pelo Impeachment quanto no pleito por sua cadeira na Academia Alagoana de Letras, Collor obteve maioria de votos. E da mesma forma também não estava concorrendo com ninguém. Era o único candidato. Talvez por isso tenha sido eleito mesmo sem nunca ter publicado um livro, requisito para concorrer a vaga. Apresentou coletâneas de seus artigos e discursos publicados. E também o manuscrito de um livro que está preparando a anos. Obviamente, com sua versão sobre o Impeachment. Será que uma imortalização substitui ou compensa outra?! E se sua ficha ainda não caiu, vou citar um alagoano (este sim, grande literato) imortal: Graciliano Ramos. Agora sim percebemos de que se trata?! De qualquer forma sinto alívio por pensar que nem todo livro publicado por membros de Academias de Letras tornam-se leitura obrigatória para vestibulares e em escolas. Imagine.

Em tempo 1: Seu pai, Arnon Mello, também possuiu uma cadeira na AAL.

Em tempo 2: Lula é um imortal da Academia Brasileira de Letras.

Em tempo 3: Claro que ele (Collor) está pensando em se candidatar a ABL.



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